As chocas sempre me fascinaram. Não por elas, que afinal não passam de chocas, mas por aquele secreto poder que detêm e que eu nunca entendi.
As chocas, animais ruminantes e de ar imbecil, deslocam-se em ruidosos grupos abanando os badalos e têm os seus cinco minutos de fama quando largadas na arena envolvem o touro, até aí bravo e renitente, e o transformam num manso cordeiro que as segue obedientemente até aos curros.
Nunca consegui perceber como as chocas fazem isto, mas também nunca consegui perceber se o touro vai atrás das chocas ou dos badalos das chocas. Certo é que o touro as segue o Tordo fez questão de também as cantar e, mal ou bem, saem de cena debaixo de uma salva de palmas que mesmo sendo de alívio sempre são palmas. Os campinos, homens sábios, enxotam-nas com varas longas sem se aproximarem muito, não por medo do toiro que anda já lá no meio mas por saberem que é nelas que não podem confiar. E as chocas, armadas em estrelas de olhar bovino e estúpido lá vão cumprindo a sua sina e tirando o touro das luces para o encaminharem para a morte certa inglória e solitária do matadouro mais próximo.
Digo outra vez, não percebo, nunca percebi, porque é que os touros, animais nobres e bravios, depois de derrubarem cavaleiros, forcados, peões de brega e tudo o mais que lhes apareça à frente metem os cornos entre os ombros e seguem obedientemente as chocas.
Mistérios da natureza, só pode.
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