Há pessoas que me fazem muita, muita confusão. Mesmo os
meus sentimentos em relação a elas são contraditórios, balançando entre a pena,
a incredulidade, e a repugnância. São pessoas más. Pessoas que destilam ódio por
cada poro do seu corpo. São incapazes, completamente incapazes, de ver alguém
bem, feliz, bonito, bem-disposto. Passeiam o seu ódio por cada corredor, cada
sala, cada pequeno espaço que ocupem. Lê-se esse ódio nos olhos, ouve-se nas
palavras, sente-se nas suas acções. São pessoas amargas, muito amargas.
Pergunto-me se em algum momento se sentirão felizes, e chego à conclusão que
não. É impossível sê-lo quando só se pensa em como tentar prejudicar os outros, em como
lhes roubar a felicidade, a alegria. Como se se pudessem alimentar com a alegria
dos outros. Mas nem é isso que acontece. Não se alimentam com a alegria dos
outros, alimentam-se com a sua tristeza, com a sua infelicidade. Parecem
abutres, esperando o momento certo para desferir o golpe, para aparar o sorriso,
para afogar a auto-estima alheia.
Pergunto-me se isto será determinado genéticamente, se
já nascerão assim, não tendo hipótese de lutar contra os genes. Pergunto-me se a
vida as fez assim. A vida nem sempre é fácil, ou melhor, raramente é fácil, mas
não é fácil para ninguém. É algo tão intrínseco nelas que se calhar é mesmo
genético, como a cor dos olhos e do cabelo. "Sou loiro, tenho olhos
azuis, e só estou bem a pôr os outros em baixo". Isto seria muito
injusto. É só pintar o cabelo e fica-se ruivo, umas lentes transformam os olhos
na cor que se quiser. E o resto, não se pode mudar?
Acho que é impossível ser feliz assim. Daí o sentimento
de pena. Acho que estas pessoas vivem uma vida de constante frustração. São
invejosas, têm inveja da felicidade alheia porque não conseguem ser felizes. As
únicas culpadas são elas próprias, mas não conseguem ver isso. O seu único
objectivo é fazer mal, ofender, criticar, magoar. Pergunto-me se, quando viram
costas, já exibem um sorriso de satisfação ou se esperam até estarem sozinhas,
longe de outros olhares, para brindarem. Sim, porque brindam sozinhas. São tão
amargas que apenas devem beber limonada, não vão correr o risco de adoçar um
bocadinho. Tenho cá para mim que podiam pegar nos limões e, em vez de fazerem
limonada, podiam fazer um belo gin tónico. O resultado seria, seguramente,
melhor.
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