Quando caímos, das primeiras coisas que
fazemos é tentar perceber porque e como caímos, e avaliar os estragos
resultantes da queda. Não é só o tamanho da queda que é importante. Podemos dar
uma grande queda e escapar sem um arranhão, ou podemos apenas tropeçar e
aleijar-nos a sério. Depende da forma como caímos, da nossa maior ou menor
resistência, do terreno em que aterramos, dos obstáculos que encontramos em
pleno voo descendente. Dependerá também da sorte, talvez.
Muitas vezes não são os grandes
obstáculos que nos fazem cair. Esses, vêem-se à distância, estamos prevenidos
contra eles. Por vezes, podemos até avaliar e ver se vale a pena ou não
dispender tempo e energia a ultrapassá-los, arriscar ferir-nos. Não raramente
são as coisas pequenas que nos fazem cair em grande. São tão pequenas que não as
vemos a não ser quando nos acertam com força, ou quando nós acertamos nelas. Nem
sempre conseguimos equilibrar-nos a tempo e evitar a queda. Caímos,
levantamo-nos, continuamos em frente. Mas nem sempre damos às feridas que daí
resultam a atenção devida. Se os pequenos arranhões não precisam de grandes
cuidados, o mesmo não acontece com as feridas maiores. Deixadas à sua sorte,
podem trazer resultados não esperados. Uma ferida não tratada demora muito mais
a cicatrizar. Quantas vezes parece que está quase curada e a sua crosta cai
porque se encontra desprotegida, e a ferida continua por curar. Porque a
ignoramos. Porque nos queremos mostrar fortes. Porque não queremos admitir mesmo
para nós próprios que ela está ali. Não adianta muito, digo eu, assim como não
adianta comparar as nossas quedas e as nossas feridas com as dos outros.
Ferimo-nos de maneiras diferentes e cicatrizamos de maneira diferente.
Podemos não querer que a ferida
cicatrize, para nos lembrar sempre que não podemos voltar a cair no mesmo sítio,
ou porque gostamos de sofrer, mexendo constantemente na ferida para que
permaneça ali, bem viva. Esta será, talvez, a pior forma.
Podemos esperar que, um dia, a pele
esteja tão calejada que seja qual for a queda, nada lhe acontecerá. Mas, não
será que a pele ao tornar-se assim tão dura não perde também a sensibilidade, a
capacidade de sentir?
Ou podemos acreditar que é normal,
depois de uma queda, ter uma ou outra ferida para tratar, assim como acreditar
que o primeiro passo para a
tratar é olhar para ela.
Hoje a Maria começou a tratar da sua ferida. E não caiu. A vida fê-la tropeçar mas ela equilibra-se sempre.
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