quarta-feira, 30 de maio de 2012

Pessoas com o Q.

Começo hoje a deixar aqui algumas vontades partilhadas. Pessoas que desejo partilhar convosco. Desta forma. Pessoas que vou conhecendo aqui e ali, que fazem o favor de me concederem a sua amizade e carinho. Pessoas que... definitivamente tem o tal Q.
Deixo-vos aqui a Ana Lacerda, a melhor bailarina de sempre. Para mim. Deixo-vos um alerta. A beleza que poderão ver no video fica a anos daquela que não se vê. Daquela que emana.







Once upon a time no 28 para os Prazeres.

Fazes questão. Não queres apanhar o taxi. O 28 é o teu número. A fidelidade que constrois também se define nestas opções. Entras. Sentas-te num lugar individual, porque gostas de ir calmamente a ler, nesta situação os apontamentos da reunião, sem ter alguém a espreitar por cima para ver o que lês e também porque as tuas pernas têm o comprimento necessário para poder agradecer lugares mais espaçosos.

Encontras um amigo teu que se senta no lugar individual à tua frente. Ao contrário do que é normal, depois de um primeiro cumprimento, ele não fica voltado de lado mas vira-se para a frente. No entanto, apesar de estar de costas para ti, continua a falar contigo. E a ti, que não te apetece levantar, continuas também a falar para alguém que está de costas.

No meio disso, as pessoas que vão entrando, à primeira sentem-se na dúvida sobre se estamos a falar com elas. Depois, percebendo que está a decorrer uma conversa em que as pessoas não se encaram, desconfiam num primeiro momento, mas depois sentem-se tentadas a participar. E tu não gostas e sentes-te tentado a dizer-lhe para dizerem isso mesmo ao teu amigo.

Levantas-te para sair e estendes uma mão para a frente, para cumprimentar o teu amigo. Ele cumprimenta-te afavelmente e segue caminho. Quando estás prestes a sair, grita-te uma piada sem se voltar.

Sais e ficas a pensar se isto era para os apanhados do David Lynch.

Beliscas-te e ficas incomodado. Não gostas de ser bruto contigo próprio.




terça-feira, 29 de maio de 2012

han han...

Ele - Gosto de te ver passar a língua pelos lábios. Ficas tão sexy. Desejas-me?
Ela - Não. É da anestesia: venho do denstista.




segunda-feira, 28 de maio de 2012

E volta-se mais uma página.The Q Man passa a mensagem.

Sem pretensiosismos. Apenas porque me parece que todos vós podem beneficiar da minha vasta experiência de pouco mais de dois meses na blogosfera. Chego aqui hoje, tenho mais dois seguidores e ultrapassaram-se as duas mil visitas. Isto é um marco. Ou não. Não interessa. Aproveitem esta minha rara boa vontade. Retribuições em vale postal ou caixas de Herdade dos Grous, tinto, 2009.

Invente um nome suficientemente tonto para o seu blog, se necessário inspire-se em blogs já existentes. O nome do seu blog deverá ser capaz de explorar o efeito "what the fuck?..." que existe em cada um de nós.

Comente os restantes blogs com parcimónia, um comentário num blog deverá acrescentar valor ao que foi escrito. Evite terminantemente os "LOL!" e os "Já me senti assim". Tente ser o primeiro a comentar, aprecie o efeito potenciador de emoções que é ser o primeiro, normalmente elas não esquecem o primeiro.

Nunca entre em litígio com outros comentadores na caixa de comentários de outros bloggers. Dá-lhe um ar arruaceiro, uma aura de Bruno Alves, de quem é facilmente provocável. Além disso, não responder a comentários desagradáveis dá-lhe um ar distinto, a quem assenta bem um fato de bom corte.

Mantenha um ar blasé, faça de conta que lhe dá igual ser lido por cinco mil pessoas num único dia ou só pela sua mãe (e ainda assim porque você lhe telefona para ler o seu post do dia). Você é um artista, os artistas não perdem tempo com a vertente comercial.

Jamais deixe comentários implorando para visitarem o seu blog (ou o seu cantinho, como você lhe chama), ainda que acene ao putativo visitante com um prometedor "tens lá um miminho". Você não precisa de pedir que visitem o seu blog, aliás, visitar o seu blog deverá ser uma necessidade básica da blogosfera.

Trate os seus comentadores com carinho. Eles perderam tempo a dar-lhe a sua opinião e valorizam uma atenção sua. O facto de você lhe ter respondido será tema de conversa durante dias, imprimirão a sua resposta, que guardarão na carteira com amor e mostrarão aos colegas lá da repartição, que admirarão o troféu, com um misto de inveja e admiração, fazendo subir o feliz proprietário na escala social (não se admire que, quando você passar, as pessoas sussurrem "é aquela a quem o Q Man respondeu no blog dele...".

Invente uma desculpa qualquer para dar um sentido ao blog, por exemplo, diga que se precisava de reencontrar. Ou fale dum factor qualquer ambíguo para deixar os leitores na ansiedade de quando irá revelar o que é isso afinal. Serve de história paralela e ajuda a escrever posts para encher chouriços, quando você não tem nada de interessante para dizer, o que acontecerá quase sempre.

Não espere comentários de bloggers famosos, a Pipoca Mais Doce jamais comentará o seu blog nem dará resposta aos seus comentários cirúrgicos no blog dela. A primeira divisão dos blogs ligeiros teve muito trabalhinho para chegar onde chegou, aquilo foram anos de escrita honesta, comentários cruzados, alianças. Você acabou de chegar, é um novo-rico da blogosfera, não espere que o convidem para o palácio, você tem um longo caminho a percorrer, vão ser necessárias referências suas e, como sabe, você não tem boas referências...

Escreva razoavelmente. Não é absolutamente necessário, mas ajuda. A sério...


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Porque só jogo na minha liga...

Ela disse-me que se nota que eu sou de outra geração porque ainda uso relógio, gosto de relógios, ela disse que o relógio é um objecto inútil, monofuncional, ninguém precisa de um objecto que só dá as horas.
Ainda tentei dizer-lhe que o meu relógio também me informa da data, mas acho que ela já não me ouviu.




(Este update fotográfico é dedicado ao meu primeiro hatemail :))

terça-feira, 22 de maio de 2012

Eu.

Já mo disseram algumas vezes. Confesso que nem tenho pensado muito nisso. Não parecia importante. Nem o é. De qualquer forma vinha a chegar ao escritório e no trajecto entre o parque e o estaminé dei por mim a constatar esse facto. O The Q Man deve parecer, aos raros que lhe dão a honra de o visitar, um blogue demasiado centrado no seu autor. Aqui, fala-se sempre na primeira e sobre a primeira pessoa. No entanto, espero que, por muito que se fale, se diga pouco. Não só porque pouco há para dizer, mas porque o que há não tem interesse. Se insisto, aliás, em manter-me como tema principal, é porque não me atrevo a dar testemunho de mais do que o meu próprio, escasso conhecimento do mundo. E se há quem entenda poder captar, nas suas introspecções, a essência da natureza humana, e tecer considerações sobre terceiros, sobre as suas motivações íntimas ou sobre a explicação dos seus actos, eu não ouso extrapolar coisíssima nenhuma, mesmo se admito representar, na minha mediania, um tipo comum da criatura racional. Mas não tenho, infelizmente, a certeza de nada, nem sequer daquilo que sou ou valho, ou das razões por que faço o que faço. A maior desconfiança de entre as desconfianças que venho acumulando ao longo da vida é no meu impulso auto-desculpabilizador. Sei que me movem excelentes intenções, mas não creio que as portas do inferno se me fechem por isso. Então por que razão blogo, se, blogando sobre mim, quero dizer tão pouco? Blogo porque gosto – ou preciso – de «conversar». Blogo porque gosto – ou preciso – de desabafar alguns pensamentos pontuais, que não consigo encaixar no conjunto das impressões ligeiras que troco em sociedade. Blogo porque gosto – ou preciso – de encontrar ou sentir que há quem concorde com eles. E blogo porque, no fundo, no fundo, sou uma espécie de intelectual, que encontra no blogue espaço para dar largas às suas espécies de intelectualizações. Assim ao jeito desta que aqui deixo…



Chiado imenso que em dois palmos cabe,
pedacinho do mundo a palpitar...
Coração da cidade que nem sabe
do que é feito esse encanto singular.
Fernanda de Castro

Daqui a cinco anos.





segunda-feira, 21 de maio de 2012

Nós.

Procuro mas sei que não estão lá. É este dilema de acordar e sentir que falta sempre mais um. Não te preocupes Q, digo-me mas é um caminho que terei de fazer sozinho. Sei as perguntas todas. É essa a minha qualidade. Sei para onde. O como é que é dificil. Isso e encontrar assim as respostas. Que soam simples. Como se bastasse querer. Para conseguir revolver o interior. Para esticar a corda. Que sufoca. Que me prende. Para sempre (?). Num passado que insiste em não ser distante. Como se o vestisse a cada instante. Como uma pele. Sem que possa despir-me desta capa que me prende os movimentos. Que me faz sempre temer que isto não chegue. Talvez seja culpa dos nós. Há muito atados. Sem folgas. Sem margem para fuga. Sem espaço para conquistar os sonhos mais ousados. Os mais simples. São nós que insistem em lembrar-me cada falha. Como se a cada passo em falso se atasse mais um. E se cada nó me serve de degrau, antes queria que os pudesse desatar. E usar essa corda para outras memórias. Para outros nós. Mais direitos. Usar essa margem para prender outros sorrisos. Que ficassem melhor no estendal. Que me trouxessem outras sensações a cada vez que me estico assim. Na corda. A cada vez que sustenho por instantes a observar o percurso. como que a fazer um ponto de situação. A medir os metros de corda já gastos. Mas também os que me restam. O que quero fazer com eles. Deixar-me ficar assim a imaginar novos nós mais sedutores. Que conquistem outras cordas que em mim se vão prendendo. Por aqui e por ali. Fechar assim os olhos e ficar. Sonhar novas formas de me prender. Desejar novos nós onde me possa agarrar. Onde possa finalmente descansar. onde esteja seguro. Aos quais não tenha de fugir. Que não voltem a sufocar-me. Mas que não me deixem cair. Outra vez.

basta que te dispas até te doeres todo,
retoma-te no tocado, no acesso,
e fica cego e,
por memória do tacto, desfaz os nós,
muitos, muito
atados uns nos outros (...)


Herberto Helder

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Freud entre um croissant e uma couve.

Realmente desde que deixei de ser elitista e morar em condomínios fechados junto ao mar e ao pinhal, trocando pela vida lisboeta num sítio que cada vez gosto mais, há certos prazeres que vou redescobrindo e que dão um não sei Q de qualidade de vida que irei tentar preservar. Um desses prazeres é usufruir do comércio de bairro, nomeadamente mercearias e padarias, e não é por causa do saudosismo e apego às tradições de antigamente, que fazem chorar qualquer calhau, tirando eu.
Tudo bem que os preços são elevados face às grande superfícies mas, pelo que observo regularmente, não se deve arranjar psicanalista mais barato. Bem vistas as coisas, onde é que se arranja uma boa consulta pelo preço de pão para almoço e jantar?
Entre os cumprimentos da praxe, o pedido e o acto de pagar, pode-se desabafar sobre problemas em casa, sobre a solidão, sobre a incerteza do futuro profissional e até sobre o facto da senhora do Corsa Azul andar mais arranjadinha. O merceeiro/padeiro não vai reclamar e vai fingir-se atento, pois a clientela tende a rarear nos dias que correm e boa parte dos outros fregueses vai sentir-se satisfeita por poder participar num painel clínico em que opiniões acutilantes como: “Deixe estar, vai ver que amanhã se Deus quiser já se sente melhor”, “Olhe, eu sei bem o que isso é, lá em casa é a mesma coisa” ou “Isto está cada vez pior, é viver cada dia o melhor que se pode, porque nunca se sabe o amanhã” são valorizadas ao nível dos melhores medicamentos.
Mas, apesar de apreciar sinceramente que aquela corja se despachasse e me deixasse comprar um simples croissant em menos de dois minutos, eu compreendo e encorajo esse comportamento. É que posso não ter pachorra para estes filmes, mas mais vale gastar o dinheiro em couves e vianinhas do que em psicanalistas duvidosos.


quinta-feira, 17 de maio de 2012

O vestir e despir de preconceitos.

Desde que me mudei que ando para vos falar sobre alguns dos estabelecimentos deste bairro. Quis o destino que eu resida perto de um clube de strip. Não foi uma decisão premeditada, quer da minha parte, quer da parte dos senhores do clube, embora estes tenham saído a ganhar pois tenho amigos que passaram a chegar com 4 horas de atraso quando combinamos alguma coisa à noite.

Nada tenho contra tão laboriosa actividade já que, graças a ela, já testemunhei cenas com tipos acalorados a discutirem na rua o facto de terem sido barrados à porta com frases épicas como “Atenção, não é por não ter 35€, é pela atitude”. Isto para não falar da minha piada recorrente de “O sonho de qualquer stripper é ter um filho varão”.

No entanto, pelo me é dado a saber, depois do boom inicial dos clubes de strip em Portugal (ex: Champanhe ou Passerelle, com vedetas do estrangeiro), multiplicaram-se os antros de qualidade duvidosa na matéria, com autênticos presuntos pendurados em varões por Lisboa e Portugal fora.

E se o strip, arte tão recriada em filmes de Hollywood com mulheres deslumbrantes e flexíveis a ponto de fazer corar de inveja a malta do Cirque du Soleil, estivesse a esse nível por cá, eu bateria as palmas e diria - sim senhor, quem vai a uma casa de strip tem uma desculpa tão legítima como aqueles tipos que dizem que compram a Playboy (estrangeira, que a nacional não existe) pelos artigos. Seria “artístico”. Aliás, deve ser com base nesse imaginário que as aulas de varão singraram aqui e acolá, com mulheres comuns a tentarem encontrar a Demi Moore que têm dentro de si e tipos a tentarem roubar varões nos transportes para levar para casa juntamente com o CD do Joe Cocker.

Mas, pelo que me é dado a conhecer e a minha (pouca) experiência transmite, em termos de sensualidade artística, o panorama actual tem muito pouco. Depois, o que sobra entretem apenas grupos festivos forrados a álcool e amantes da caça à febra encoberta.

E, para isso, já existiam as Festas de Natal das empresas.

PS - Nem vou falar de strip masculino, porque depois de bater no amblíope, tenho pouca disposição para aviar o ceguinho.



quarta-feira, 16 de maio de 2012

terça-feira, 15 de maio de 2012

A propósito deste frio esquisito que por aqui anda... e que vai já acabar amanhã.

Vinha o vosso amigo a suar em bica subindo a avenida depois de mais uma reunião e dou de caras com esse flagelo que é pior que os incêndios de verão. A calça branca!! Apeteceu-me partilhar convosco sobre essa tentação que se abate no Verão sobre muito homem que tenta parecer moderno. Pode ser que ainda vá a tempo. Caríssimos, tirando alguns padeiros (tanto de profissão, como de mentalidade), marujos (mais por imposição militar, mas também pela ausência feminina durante longas estadias no mar), malta de artes marciais (sempre muito dada a abracinhos e puxões) e alguns infelizes profissionais, há que dizer uma grande verdade – as calças brancas são (ou deviam ser) coisa exclusiva de mulher e ponto final.
Aliás, posso dizer que, possivelmente, os únicos homens que usam calças brancas e não são gozados directamente por isso são os estrunfes e é porque tipos que andam só de calças e barrete, têm apenas uma mulher na comunidade, vivem em cogumelos e são azuis, bem creio que não é preciso ser um génio para perceber que as calças brancas são o menor dos seus problemas...
Por isso, a não ser que o teu nome artístico tenha o nome de uma peça de fruta, o teu mister seja fazer brioches ou saibas tudo sobre manobras de atracagem, vai por mim:

Homem sem calça branca no guarda roupa, é dinheiro e risota que se poupa.

PS – Quanto ao público feminino, desde que sejam cumpridos padrões mínimos de bom gosto e das leis da física, nada a opôr.


Just because you are a character doesn't mean that you have character.

A propósito duma oferta do mano que consiste num par de bilhetes para o Rock in Rio para aquele dia em que ninguém vai conseguir dormir num raio de 10km à volta da Bela Vista, estava ontem a fazer a lista de candidatos a acompanharem-me à borla e apreciadores do bom hardrock da minha network quando o X, amigo de longas incursões ao mítico RRV, Johny Guitar e 2, se deteve a filosofar sobre o rock com caracter. Como é do conhecimento geral, uma pessoa vai parar ao inferno se falar mal de Xutos e Pontapés, e Deus sabe que eu tentei fazê-lo. Sempre que consegui ir mais longe do que uma elevada indiferença por parte dos meus interlocutores, recebi de volta o argumento de que, sim, talvez não sejam os melhores do mundo, mas são uma banda honesta. Mais tarde, a ler um texto de Miguel Esteves Cardoso sobre o álbum Sandinista de Clash, lá estava outra vez o epíteto: uma banda honesta. Há muitas outras, normalmente em anúncios da Vodafone, de preferência com três ou quatro elementos e sem pretensões a mudar o curso do rock. Supõe-se que não é das qualidades morais dos homens que as compõem que se fala (não é costume falar-se de bandas honestas que contenham miúdas), mas do facto de não estarem aqui para enganar ninguém. Atendendo à regra universal da boa educação de que não se fala mal de quem que se antecipou na tarefa, ao fazê-lo, tornamo-nos nós próprios desonestos maus caracteres, por trazer argumentos como a qualidade musical para uma discussão sobre Xutos, afastando o debate do seu núcleo central. É como dizer que a Madre Teresa não era assim muito gira.


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Serviço Público (Optimismo vs. Realismo )

Alguns amigos meus amiúde perguntam-me "Q, tu que és versado nesta coisa das senhoras (andam tão iludidos...) diz-me. Com esta coisa das redes sociais, como fazer para ser reconhecido?" Depois de meditar um pouco (3 segundos é o tempo que dedico a estas coisas normalmente. 5 segundos em casos excepcionais) considerei útil deixar aqui aos meus amigos uma espécie de manual. Chamar-lhe-ei o Manual do Pessimista.

Como descrever-se, se modo a ser reconhecido, em situação de blind date.

Dê a pior descrição possível de si antes do primeiro encontro. Os possíveis desfechos serão todos igualmente positivos:
a) A visada irá com baixas expectativas e será agradavelmente surpreendida, fazendo com que a representação do gráfico de performance seja uma recta ligeiramente ascendente.
b) A sua descrição, muito provavelmente, irá corresponder à dura realidade. Parabéns; o seu sentido auto-crítico é fenomenal. Afinal há coisas na vida em que é bom.
c) Ela irá desmarcar, com medo do choque inicial. Deste modo, acaba de se poupar tempo e gasolina, reduzindo-se de igual modo o desgaste associado à circulação em estradas de qualidade duvidosa. A factura da sua próxima revisão será bem mais barata, não envolvendo gastos com velas e amortecedores.


Do meu bairro

Contributos para a minha definição de felicidade:

«Other forms of pleasure extolled by Mme du Châtelet in this sensible analysis are the acquisition of new pieces of furniture, snuff-boxes and so on, which she says give her intense happiness, regular visits to the privy and keeping warm in very cold weather». (Nancy Mitford, Voltaire in Love).


(do Largo da Graça)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sextas feiras que já deviam ter chegado.

Tens daquelas sextas feiras que chegam tarde. Porque desde segunda que não paras, esta até foi daquelas em que espremeste o sumo todo ao limão, trabalhaste em média quinze horas quase seguidas, é o Brent que desce, é o Dólar que sobe, estás sem rede, estão todos a ver, tens que decidir, eles, os mais velhos acham que és demasiado novo, arriscas nos limites, deixam-te arriscar, deixam sempre, talvez te espalhes agora, respiras fundo, ninguém domina a tensão como tu, dizem-te que é melhor desistir, tu nem ouves, continuas em jogo, ninguém acredita mas tu ainda estás em jogo, acham-te piada, dizem-te que estás a forçar a tua sorte, sabes que não, a sorte a ti encontra-te sempre a fazer os trabalhos de casa, só tens que fazer de conta que te dá igual, são só milhões, dinheiro não traz a felicidade, não tremas agora, não ouças o senhor Bloomberg nem as cotações da Moodys, o teu instinto não te vai falhar agora, logo agora, não sorrias, arriscas mais uma vez, estavas certo, abraçam-te, sim senhor, que trabalho de equipa, sempre souberam que sim, que eras o tal, são duas da manhã, temos que comemorar, dizes que te retiras, eles que comemorem, tens o avião das sete e dez não tarda, sempre o avião das sete e dez, mereces um gin tónico, a noite está fantástica, hoje não ouves o Zambujo, hoje ouves os Iron Maiden, bem alto, um dia fodes-te, hoje não é esse dia.

(São Vicente de Fora)

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Mais uma viagem, mais uma corrida.

Há noites assim. Acordamos a meio da noite para o cigarro e temos aquela mensagem esperada. Já gasta de não ser novidade. Noites que se transformam em dias seguintes que adivinhamos não vão ser brilhantes. Hoje é um daqueles em que não me apetece escrever sobre nada, não quero namorar palavras umas atrás das outra. Não sei sobre o que escrever e, lamentavelmente, sou péssimo a escrever sobre nada (não se pode ser bom em tudo). Dói-me horrores cá dentro, é uma faca que crava o peito e se aloja junto ao coração. É um aperto, uma sensação de impotência. Faço log in e fico a olhar para para o écran em branco. A distância a percorrer parece-me desumana, impossível de fazer. Lembro-me das vezes em que as ideias queriam correr desenfreadas pelo écran. Lembro-me de não conseguir fazer os dedos acompanharem a velocidade do pensamento. Lembro-me bem de alturas em que anotava no telemóvel as coisas que queria escrever. Esses dias parecem-me cansados, gastos, longínquos. Busco a inspiração em sítios que não lembram a ninguém, agarro-me a ideias que não consigo explanar. Deambulo pelas notícias, regozijo-me com coisas que leio, murmuro para o lado opiniões curtas e e assertivas sobre o que me rodeia. Sou incapaz de escrever mais do que duas frases sobre o que quer que seja. Não ando deprimido, oprimido ou obstipado. Não ando farto nem cego para os assuntos. Ando cansado (e como eu escrevo melhor cansado) o suficiente para poder escrever um livro. Não sei o que me deu. Apetece-me brindar-vos com uma desculpa de macho impotente, que olha para a mulher deitada ao seu lado, exposta aos seus olhos e exclama, às vezes num tom recheado de acusações: "isto nunca me aconteceu antes".
Até me voltar a tesão, ficamos por isto mesmo. Talvez passe, talvez não.




(Onde o mar é mais azul)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Reflexões com o rio.


Vim de lá agora. Um dos meus spots preferidos... e muito bem frequentado.





Janelas Verdes (Museu de Arte Antiga)

In the mood.


Não sei já vos contei que volta não volta faço uns anúncio para a televisão. Não!! Não vão já a correr ligar a TV. Foi tudo para o estrangeiro. Gosto daquilo. Somos tratados como estrelas, apaparicam-nos com o catering e até acham que devemos ser famosos na nossa terra. Eu nunca me desmancho. Gosto daqueles momentos, confesso. Isto para vos dizer que esta idade que já vou tendo, há pequenas coisas que nos vão divertindo e outras que nos vão construindo. Resumindo... esta idade dá-nos a pujança para aguentarmos muito mais do que acreditávamos. Por isso gosto de desafios.

Sempre gostei de desafios. De testar os limites. Descobrir até onde sou capaz de ir. Aliás, não existe melhor maneira de me convencerem a fazer alguma coisa que dizendo: “duvido que sejas capaz!”. Gosto que me provoquem. Que me aticem a curiosidade e me obriguem a ultrapassar fronteiras. Que me mostrem que sou mais que aquela imagem que o espelho me devolve.

Não gosto de deixar nada a meio. Incompleto. Quando meto uma coisa na cabeça vou até ao fim…mesmo que às tantas já não me faça sentido. Prefiro ter de regressar de mãos a abanar, mas com a certeza de conhecer o fim de cada trilho. Não consigo aceitar a palavra desistir, não me faz sentido. Como é possível que, de um dia para o outro, deitemos por terra os nossos sonhos?


Gosto de ser verdadeiro. Autêntico. Mesmo que por vezes isso me saia caro. Sei que consigo esconder muito bem aquilo que sinto e, quando necessário, consigo facilmente fazer com que acreditem nas personagens que crio. Mas uma das coisas que mais odeio é a hipocrisia. Quem me conhece sabe que nem sempre tenho palavras simpáticas para lhes oferecer…mas sabem também que não tenho palavras vazias. Posso ser duro nas minhas criticas, mas nunca serei falso. Opto muitas vezes pelo silêncio, mas apenas para não ter de fingir.

Nunca gostei de deixar pontas soltas. Gosto de ter tudo organizado - a minha forma de organização – pode mesmo dizer-se que é uma obsessão. Para mim as ideias são como pontos perdidos num mapa. Mas sempre ligadas por fios condutores…para que não se percam. Não tenho descanso enquanto não consigo pôr cada coisa no seu lugar. Para que me faça sentido. Infelizmente tudo para mim tem de ser lógico. Custa-me aceitar o “porque sim”.

Ensinaram-me que os problemas que nos surgem devem ser resolvidos, ao invés de apenas contornados. E, por isso, custa-me quando tenho de deixar algo por resolver. Ou quando ficam palavras por dizer. Tenho necessidade de deitar cá para fora o que sinto, na esperança que isso me traga, finalmente, algum descanso. Que me permita escolher um caminho.

Sou cauteloso, mas não suporto dúvidas. Gosto de calcular ao detalhe cada movimento, mas não resisto à curiosidade por muito tempo. Sei que só tenho a perder por não ser mais paciente, mas mesmo assim resolvi arriscar. Precisava urgentemente de virar esta página. De saber o que vinha a seguir. Já há algum tempo que planeava este passo, com a serenidade de quem tem toda a vida pela frente...mas com igual necessidade de conhecer os resultados. Tinha de me testar, para saber se resistia. Só assim poderia passar à próxima etapa.




(got the message? ;)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Aquele sítio.

Vir do almoço com a miúda e apetecer-me estar um pouco mais perto. Daquele sítio. Trocámos mais umas mensagens. Acabaram com um smile. Outra vez. Esta coisa cá dentro. Os brasileiros chamam-lhe, salvo erro, «orgulho besta». O adjectivo é devido, porque a estupidez revela-se em toda a linha de manifestação desta terrível forma de sentimento. Também sou orgulhoso – quem o não é? – e também me custa dar o braço a torcer. Mas há um ponto de sufocação, de ânsia por uma aproximação, uma explicação ou um passo em frente, que me derrota invariavelmente os «orgulhos bestas», por inexpugnável que pareça a fortaleza em que se barricaram, num prazo que nunca ultrapassa os dois dias. Este foi a excepção. Meses que para aqui anda. É, deduzo, virtude da minha condição de velho guerreiro de muitas batalhas pela própria vida. Já não tenho tempo para certas merdices. Estou, de resto, pronto a admitir que, mais do que a expressão de uma índole conciliadora, esteja em causa a minha antiga propensão para verbalizar os meus estados de alma e esvaziar em jactos de palavras os copos de águas turvas que vai enchendo gota a gota. Já dei para esse peditório. Esta armadura já está estanque. Para os dois sentidos. O certo é que consigo quebrar o silêncio e pedir - como peço - desculpa. Razão por que não conto morrer de estupidez. Porque o «orgulho besta» é dos tais que recusa, sem um estremecimento de dúvida, o amor, a compreensão, a mão estendida, com risco que seja para a felicidade do orgulhoso e até para a própria vida.

 


Nonsense... porque me apeteceu e quem manda aqui sou eu :)

Nunca se bate a ninguém que use óculos. Pode-se estar a bater no Clark Kent, e depois quem precisa de óculos somos nós.

Entretanto espero descobrir a razão pela qual não se bate numa mulher, nem mesmo com uma flor.






segunda-feira, 7 de maio de 2012

O bairro.

Vilas operárias da Graça.



Vila Berta


Hábitos.

Quem me conhece sabe que sou uma pessoa... como dizer... arrumada (not!).
Tenho muita pena de não ser como aquelas pessoas um bocado doentes que dizem “Deus ma livre de sair de casa sem a cama feita!”. Eu, na melhor das hipóteses, mudo os lençóis uma vez por semana e é exactamente nessa altura que a minha cama se encontra feita. Depois nunca mais a faço. Não me dá jeito – nem de manhã nem à noite.
Na minha casa, loiça por lavar nunca falta. O cotão só me começa a enervar quando já anda a esvoaçar junto aos rodapés. Tenho sempre pares de sapatos espalhados pelo quarto. A minha mesa da sala é uma vergonha: papéis, livros, facturas, cds, um cinzeiro por despejar.
De vez em quando tento melhorar a pessoa que sou (umas duas vezes por mês) e é então que visto uma t-shirt velha que diz “100% BOAVISTA!” e umas chinelas para não parecer tão doméstico. Desce sobre mim uma fúria tão grande, que na loucura do aspirador e uns minutinhos nos dois metros quadrados da minha “casa-de-banho” a snifar sonasol misturado com lixívia, começo a esfregar as loiças e a cantar ACDC (tandér! tandér! aaaahhhhaaaaahhhaaaaa... tandér! tandér!)
Chego ao final do transe das limpezas e juro a pés juntos que a partir daquele momento tudo vai mudar e terei sempre a roupa arrumada, nada de migalhas no sofá e nem um borboto no chão para amostra, nem sombra de calcário nos azulejos do polibã!
Uma vez, fiquei tão convicto que cheguei a cumprir com as minhas obrigações domésticas durante três dias seguidos.


domingo, 6 de maio de 2012

Tenho chão.


Passam pouco mais de sete meses desde que perdi o meu teto. Mantenho o chão. Já fui desespero. Já fui dor. Já fui mar de esperas e onda gigante. Fui rochedo, mar de calmaria. Já fui céu que se deita e abraça o mar. Fui pacífico e atlântico, maré vaza e maré alta. Estive a norte e a sul. Naveguei para o outro lado do mundo. Fui gota de mar salgado, um bordado feito de espuma, mar de perdição. Fui pirata e escravo em terras de além mar. Fui o olhar de uma vaga e corrida contra o cansaço numa praia deserta. Fui areia branca... Fui concha esquecida, um golfinho, um beijo, cavalo-marinho e estrela do mar. Fui balanço num bote pesqueiro e navegante, à deriva, num barco à vela. Fui aldeia piscatória num país do sul. Fui amor, louco e rebelde, amor débil, paixão de verão. Fui um grito de dor, uma praia distante. Fui casa caiada de branco e gaivota em voo planado. Debaixo do céu demasiado azul e de sol escaldante, fui salina e essência, um sorriso, uma lágrima. Hoje, sou o mar que carrego com todos os azuis dos mares por onde andei. Hoje e sempre sou filho da minha mãe. Hoje tenho um chão. Hoje estou grato, um pouco mais que ontem e um pouco menos que amanhã.




quarta-feira, 2 de maio de 2012

Esta é para ti... e para mim.

Um dia fartas-te. Um dia olhas ao espelho não gostas do que vês a observar-te. Um dia acreditas que já não vais a tempo. Um dia acreditas que o que te disseram é verdade. Um dia. Um dia, o mais provável é tornares-te num chato, deixares de sair à noite e começares-te a levar-te demasiado a sério. Nesse dia vais começar a vestir cinzento e beje, pedir para baixar o volume da música e deixar a tua guitarra a apanhar pó. Vais tornar-te politicamente correcto, socialmente evoluído, economicamente consciente. Vais achar que tens de ir para onde toda a gente vai e assumir que tens de usar fato e gravata todos os dias. Nesse dia vais deixar de beijar em público, as tuas viagens serão mais vezes no sofá e dormirás menos ao relento. É oficial: vais entrar na idade do chinelo e deixar de ser quem foste até então. Vais deixar de te sentar ao colo dos amigos e vais esquecer-te como se faz um quantos-queres ou um barco de papel. Vais ficar nervosinho se não trocares de carro de quatro em quatro anos e desatinares se o hotel onde ficares não te der toalhas para o teu macio e hidratado rosto. Vais tornar-te muito crescido e preocupar-te com tudo e com nada e a não fazer nada porque ‘vai-se andando’ e 'a vida é mesmo assim'. Vais dizer não mais vezes, vais ter mais medo, vais achar que não podes, que não deves, que tens vergonha. Vais ser mais triste. nesse dia, o mais provável é que também deixes de beber refrigerantes…

Fica aqui uma ideia: quando esse dia chegar, não lhe fales.




E tu camarada? Onde estavas no 1º de Maio?

John Wayne style

Depois de uma aula de educação sexual, a professora pediu para que os alunos fizessem uma composição sobre o tema sexo e assuntos relacionados. no dia seguinte, cada aluno leu a sua composição: a da joaninha era acerca de métodos contraceptivos, a do zezinho 'falava' da masturbação, a jaquininha escreveu sobre rituais sexuais antigos, and so on... e chegou a vez do luizinho:
então luizinho, fizeste a composição que eu pedi?
sim, senhora professora.
vá, lê então
e o luizinho começou a ler:
Era uma vez no velho oeste, há muitos, muitos, anos uma pequena cidade. no relógio da igreja batiam as sete da tarde. nuvens de poeira arrastavam-se pela cidade semi-deserta. o pôr-do-sol ofuscava o horizonte e tingia as nuvens de tons sangue. de súbito, no horizonte, recortou-se a silhueta de um cowboy..
lentamente, foi-se aproximando da cidade... ao chegar à entrada, saiu do cavalo
o silencio, pesado, foi apenas perturbado pelo tilintar das esporas. o cavaleiro, johny, vestia todo de preto, à excepção do lenço, vermelho, que trazia ao pescoço e da fivela, de prata, que 'prendia' os seus dois revolveres à cintura. o cavalo, companheiro de muitas andanças, dirigiu-se, hesitante, por uma poça de água…
pum, pum, pum
o cheiro a pólvora provinha do revólver que já tinha voltado para o coldre de johny. johny não gostava de cavalos desobedientes… e dirigiu-se para o bar. quando estava a subir os três degraus, um mendigo que até ali dormia, tocou na perna de johny e pediu uma esmola...
pum, pum, pum
johny não gostava que lhe tocassem. entrou no bar, foi até ao balcão e pediu uma cerveja. o barman serviu-lhe a cerveja. johny bebeu um trago...
pum, pum, pum
johny não gostava de cervejas mornas
as pessoas olharam todas, surpresas
pum, pum, pum
johny não gostava de ser o centro das atenções.
saiu do bar, deslocou-se até ao outro lado da cidade para comprar um cavalo. passou por ele um grupo de crianças que brincavam e corriam….
pum, pum, pum
johny não gostava de poeira e, além disso, as crianças fazem barulho demais.
comprou o cavalo e, depois de entregar o dinheiro, o homem enganou-se no troco...
pum, pum, pum
johny não gostava que se enganassem no troco.
saiu da cidade. mais uma vez a sua silhueta recortou-se no horizonte, desta vez com o sol praticamente recolhido. o silêncio, era pesado.
fim
o luizinho calou-se. a turma estava petrificada. a professora, chocada, apenas pergunta:
mas... mas... luizinho...o que esta composição tem a ver com sexo?
luizinho, com as mãos nos bolsos, responde:
o johny era fodido... as all johny's ;)