Um dia fartas-te. Um dia olhas ao espelho não gostas do que vês a observar-te. Um dia acreditas que já não vais a tempo. Um dia acreditas que o que te disseram é verdade. Um dia. Um dia, o mais provável é tornares-te num
chato, deixares de sair à noite e começares-te a levar-te demasiado a sério.
Nesse dia vais começar a vestir cinzento e beje, pedir para baixar o volume da
música e deixar a tua guitarra a apanhar pó. Vais tornar-te politicamente
correcto, socialmente evoluído, economicamente consciente. Vais achar que tens
de ir para onde toda a gente vai e assumir que tens de usar fato e gravata todos
os dias. Nesse dia vais deixar de beijar em público, as tuas viagens serão mais
vezes no sofá e dormirás menos ao relento. É oficial: vais entrar na idade do
chinelo e deixar de ser quem foste até então. Vais deixar de te sentar ao colo
dos amigos e vais esquecer-te como se faz um quantos-queres ou um barco de
papel. Vais ficar nervosinho se não trocares de carro de quatro em quatro anos e
desatinares se o hotel onde ficares não te der toalhas para o teu macio e
hidratado rosto. Vais tornar-te muito crescido e preocupar-te com tudo e com
nada e a não fazer nada porque ‘vai-se andando’ e 'a vida é mesmo assim'. Vais
dizer não mais vezes, vais ter mais medo, vais achar que não podes, que não
deves, que tens vergonha. Vais ser mais triste. nesse dia, o mais provável é que
também deixes de beber refrigerantes…
Fica aqui uma ideia: quando esse
dia chegar, não lhe fales.
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