A propósito duma oferta do mano que consiste num par de bilhetes para o Rock in Rio para aquele dia em que ninguém vai conseguir dormir num raio de 10km à volta da Bela Vista, estava ontem a fazer a lista de candidatos a acompanharem-me à borla e apreciadores do bom hardrock da minha network quando o X, amigo de longas incursões ao mítico RRV, Johny Guitar e 2, se deteve a filosofar sobre o rock com caracter. Como é do conhecimento geral, uma pessoa vai parar ao inferno se falar mal de Xutos e Pontapés, e Deus sabe que eu tentei fazê-lo. Sempre que consegui ir mais longe do que uma elevada indiferença por parte dos meus interlocutores, recebi de volta o argumento de que, sim, talvez não sejam os melhores do mundo, mas são uma banda honesta. Mais tarde, a ler um texto de Miguel Esteves Cardoso sobre o álbum Sandinista de Clash, lá estava outra vez o epíteto: uma banda honesta. Há muitas outras, normalmente em anúncios da Vodafone, de preferência com três ou quatro elementos e sem pretensões a mudar o curso do rock. Supõe-se que não é das qualidades morais dos homens que as compõem que se fala (não é costume falar-se de bandas honestas que contenham miúdas), mas do facto de não estarem aqui para enganar ninguém. Atendendo à regra universal da boa educação de que não se fala mal de quem que se antecipou na tarefa, ao fazê-lo, tornamo-nos nós próprios desonestos maus caracteres, por trazer argumentos como a qualidade musical para uma discussão sobre Xutos, afastando o debate do seu núcleo central. É como dizer que a Madre Teresa não era assim muito gira.
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