Passam pouco mais de sete meses desde que perdi o meu teto. Mantenho o chão. Já fui desespero. Já fui dor. Já fui mar de esperas e onda gigante. Fui
rochedo, mar de calmaria. Já fui céu que se deita e abraça o mar. Fui pacífico e
atlântico, maré vaza e maré alta. Estive a norte e a sul. Naveguei para o outro
lado do mundo. Fui gota de mar salgado, um bordado feito de espuma, mar de
perdição. Fui pirata e escravo em terras de além mar. Fui o olhar de uma vaga e
corrida contra o cansaço numa praia deserta. Fui areia branca... Fui concha
esquecida, um golfinho, um beijo, cavalo-marinho e estrela do mar. Fui
balanço num bote pesqueiro e navegante, à deriva, num barco à vela. Fui aldeia
piscatória num país do sul. Fui amor, louco e rebelde, amor débil, paixão de
verão. Fui um grito de dor, uma praia distante. Fui casa caiada de branco e
gaivota em voo planado. Debaixo do céu demasiado azul e de sol escaldante, fui
salina e essência, um sorriso, uma lágrima. Hoje, sou o mar que carrego com
todos os azuis dos mares por onde andei. Hoje e sempre sou filho da minha mãe. Hoje tenho um chão. Hoje estou grato, um pouco mais que ontem e um pouco menos que amanhã.
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