Continuando a saga do olival e daquela mania de ir ver os aviões e os barcos no porto de Leixões e o camandro... Não compreendo o gozo que dá ver aviões a descolar e a aterrar. Ainda se chocassem uns contra os outros, tipo bolas de bilhar. Mas não. Monstros carneiros. Põem-se na fila à espera da sua vez para descolar. Ordeiramente. Nem sequer dão um bocadinho de gás, tipo os motards. Põem-se na fila para estacionar. Ordeiramente. Nem buzinam nem nada, tipo os condutores impacientes, tipo eu. Toneladas de chapa reluzente bem-comportadinhas. Pasmaceira. Não compreendo os planespotters. Qual o gozo? Os lovespotters são um bocadinho assim. De binóculos, a espiar a paixão alheia. Nunca se atrevem a embarcar. Limitam-se a ver os outros a apaixonarem-se, a amarem, a desiludirem-se, a degladiarem-se, a apaixonarem-se outra vez, a desiludirem-se outra vez, a degladiarem-se outra vez, a apaixonarem-se outra vez ... Os lovespotters limitam-se a invejar o amor de dois apaixonados, sem nunca se atreverem a embarcar numa viagem semelhante, com receio de apanharem uns poços de ar durante a viagem, enquanto estão lá em cima, no ar, sem rede. Ou então, se calhar, têm receio de aterrar. Voltar à terra. Cair na real. Sim, ir às nuvens é muito bom. Mas aterrar de vez em quando também é preciso, quando muito é prenúncio de nova viagem. Com a mesma companhia, ou então com outra. O que interessa é não ter medo de voar. E é isto. Apeteceu-me desabafar!
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