"Para cada acção há sempre uma reacção, oposta e de mesma intensidade."
O
Newton sabia-a toda. Tanto que fica assim explicado!
Toda a dedicação
ultrajada pela realidade que nos reprime. Vezes tantas que a tentativa de
aproximação gera a repulsa. E os vice-versas que nos corrompem a solidão. O
telefone toca. Dá-me aquela vontade tão familiar de o atirar pela janela.
“Estou?…“
Estou, farto que me façam puxar pela cabeça. Já por um
braço ou por uma perna levam-me para todo o lado. Pela cabeça, não. Resisto.
Temo a cedência ao que desconheço, procuro sempre enraizar-me aos meus tubos de
ensaio virtuais onde deixei os sentimentos fumegantes, em análise.
Estou,
em sofrimento quando a apatia se entranha. A sensação do inútil, do tempo que me
aproxima do cadafalso, inexorável. É a sedição que me empurra à acção, tantas
vezes intempestiva, tantas vezes também relampejante e tempestuosa. Tanto mais
quanto a apatia me devore. A chuva e o frio que emanam da minha alma atormentada
geram vagas de tolerância, que não mereço. Sorrio. O telefone paira-me a
centímetros dos dedos, entre o merecido descanso e a janela aberta para aplacar
o calamitoso Verão, fora de horas. Por instantes não sei onde irá parar, é a
fraca aragem que o transporta, em simbiose com a pequena força com que tenta
impor-se ao calmão, talvez também fruto do fenómeno newtoniano. Eu queria a
janela, consequentemente, ele quer o descanso. Alguém queria que ele parasse de
tocar…
“Estou?...”
Estou, como um pequeno insecto no vislumbre do
canto em que aquela vespa agarra a sua aranha, entre as pequenas patas finas mas
titânicas, o abdómen contorce-se-lhe enquanto espeta o ferrão erecto, obsceno,
uma e outra vez. A aranha abandona-se ao consentimento, como dois amantes que o
degredo tivesse separado um dia e se encontrassem agora. Mas ali não é o amor
que os une, talvez por isso todo o acto seja de uma imaculada perfeição, não
existem factores exógenos, nem história que os reprima. Assim, não me vêem.
Sinto-me como o tarado que não deveria estar ali a mirar tanto empenho naquela
união casual, mas não gratuita. Por isso afasto-me, a pensar se daquele ódio
ocasional não nascerá um amor sem tempo, infinito e desejável. Sem saber ao
certo se quero ser vespa ou aranha. Sei que quando sou vespa o meu dia tem
sequela. Nunca me consigo imaginar noutro lugar. Já me convenço de que nasci
para envenenar. Envenenar suporto, tiro sempre partido das minha inoculações.
Mortifico-me porém se me sinto envenenado, temo por isso ferrão que me
trespasse. E no entanto…
“Estou?...”
Estou, ciente de que as
vespas são tão grandes que nem as vejo. E o resultado da sua acção talvez só o
saiba daqui a demasiado tempo. Passo assim cada dia, apreensivo por poder vir a parir
diabo que me coma. Mas talvez, pela lei de Newton, seja eu parido por anjo que
me adormeça.
Por esta lei, da física elementar, só o bem morre com
culpa.
Sem comentários:
Enviar um comentário