sexta-feira, 27 de abril de 2012

Que vai ser diferente este fim de semana Q?

Vou entrar por aqui...


... e depois passo por aqui.



Um bom fim de semana (plus feriado). Cuidem-se.

Tenho que ir.

Nada nos é dado. Temos de o conquistar. O espaço, o tempo, o sucesso, o amor, o dinheiro. Não decidimos quem entra na nossa vida. Sente-se apenas. Mas decidimos quem sai. Por muito que custe. Porque somos feitos de marcas, episódios, lutas, pormenores, risos e lágrimas, dores e crenças. Ao longo da vida vamos-nos construindo, derrubando muros, saltando barreiras de obstáculos. Há também aqueles momentos em que simplesmente baixamos os braços, deitamo-nos no chão frio e deixamo-nos ficar lá, imóveis, inertes, até arranjarmos formas e forças para nos levantarmos. Decidimos reconstruir-nos. Passamos a vida a limar arestas, a tentar sermos melhores seres humanos, a tentar alcançar metas, pessoais e profissionais, que nos façam, por momentos, sentir realizados.
Já estive várias vezes deitado inerte no chão frio e já me levantei a vezes que consegui. Todos temos uma história para contar. Já todos sentimos a vida ser mais madrasta que mãe.
Quando alguém novo entra na nossa vida não lhes mostramos logo as cicatrizes, não lhes contamos logo a nossa história. Não nos armamos em coitadinhos. Não queremos que as vezes que nos deitámos no chão frio sejam das primeiras coisas a saberem sobre nós. Damos por nós a pensar que não sabemos quanto tempo aquela pessoa vai estar na nossa vida ao ponto de nos sentirmos na obrigação de partilhar as résteas, os destroços, de fases menos felizes. Não gostamos de falar daqueles episódios menos brilhantes. Uns em que somos responsáveis, outros em que nunca tivemos uma forma de fugir. Há coisas na vida que não podemos escolher. São como são. Lidamos com isso da melhor maneira que conseguimos. Não falamos sobre isso, lidamos com isso.
Mas a vida não espera e o tempo não pára para que tenhamos tempo de ter certezas, em relação a alguém novo na nossa vida e sobre quanto tempo vai ficar, e acaba por haver um momento em que nos mete a desmoronar por dentro em frente a alguém que não conhece a nossa história. E nessa altura, sem ensaios e sem cábula, vemo-nos obrigados, sem certezas, a deixar que uma pessoa que é nova na nossa vida, de um momento para o outro nos veja as cicatrizes. Que saiba aquela história que não gostamos de contar, que tão pouca gente sabe, que só sabem as pessoas que nos conhecem desde bebés, aquela onde não tivemos poder de escolha mas que nos vai magoando ao longo da vida. Precisamos de contar a história para justificar actos, opiniões, formas de agir e reagir.
Contar uma parte da minha vida a alguém que não sei quanto tempo vai fazer parte dela é um esforço brutal. É pesado. É também uma prova de confiança. É um medidor de afectos. Alguns de vocês conhecem a minha história, outros talvez especulem e, creio, a maior parte está-se nas tintas. Mas há aquela que a conhece melhor que ninguém e que tive de deixar. Porque sim. Tenho de ir X.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Não sei se Freud pode ajudar.

Acordei às 6 da manhã com uma sms de um número desconhecido:
“já chegaste? adorei estar contigo miúdo”.
Se não me falhava a memória já tinha ali chegado por volta das 00h40 e não tinha estado com ninguém. Também é verdade que já tive episódios de sonambulismo.
Pensei em responder, tipo Maradona, “está tudo bem, obrigado” mas voltei-me e adormeci.
Sonhei que estava no Brasil e muito angustiado dizia “Mas isto é um sonho! Isto não é verdade! A prova de que isto é um sonho e não é verdade é que eu não tenho poder de opção. Mais vou experimentar ir ali para o meio do trânsito a ver se me acontece alguma coisa. Vês? Vês? Não consigo ir. Está mais do que provado que é um sonho.”
Ah!, o que a terapia me fez - O terror de não poder optar a um nível inconsciente.
Sou uma pessoa interessantíssima, não haja dúvidas.

(alguém me ajuda? Estou na dúvida... de que raça é o cão?)

terça-feira, 24 de abril de 2012

Que visita cultural vais fazer amanhã pelas 19h45 Q?

Vai ser por aqui.

Não é para todos.

Ainda ontem tive de ser assertivo, ou como me disseram/apontaram, arrogante. Talvez seja isso mesmo. Também é verdade que já não tenho nem idade nem paciência para certas merdices. Já fiz os favores todos. Fiz até demais. Então se sou arrogante, sou um arrogante de classe. Aliás, isto de ser arrogante não é fácil, temos que estar melhor preparados que os outros, são os livros lidos em vez de alimentar as facebookeanas páginas, são as viagem feitas em vez do torrar ao sol no reino dos Algarves, são as experiências vividas em vez das manhãs dormidas até tarde que nos dão as bases para sermos arrogantes, que, todos o sabemos, é ter opinião clara sobre os assuntos, é dizer nos olhos que se gosta em vez de clicar no dedinho para cima, é assumir o que se faz em vez do refúgio fácil no boato e na velhacaria, é não falar de quem não conhecemos, é não fazer alianças de conveniência.

Ser arrogante é saber que não vamos fazer parte dos mais populares, esse estatuto pertencerá sempre aos que se queixam, que, coitadinhos, não têm sorte nenhuma, aos dignos de compaixão, aos que precisam do ombro amigo, aos que preenchem as nossas necessidades de termos um desgraçadinho de estimação para tomarmos conta.

Ser arrogante é uma canseira, dá trabalho, implica fazer opções claras, pedir desculpa quando tem que ser. Ser arrogante não é para todos. É por isso que somos poucos e cada vez seremos menos.

(mas é tremendamente afrodisíaco, nao é?...)



segunda-feira, 23 de abril de 2012

Pois, pois...

A questão e o dilema de optar por água ou água pé.

Sarkozy a boit plus que de l'eau... diz o reporter ;)

Elas

Ontem, depois de deixar a miúda em casa da mãe, ainda fui a tempo de ir comer uma tosta com uma das raras amigas que gosta de ver futebol (embora eu lhe diga sempre que uma mulher a comentar as jogadas soe tão estranho como eu a comentar um cozinhado, mas enfim... ela até percebe o que é um fora de jogo posicional e é gira que se farta, por isso...) e ver o Sportéingue. A X, seja em que situação for, é daquele tipo de mulheres (como quase todas) que se tentam armar em conselheiras sentimentais, tentando explicar aos homens a chave infalível para o sucesso com as mesmas.
"Nós não gostamos nada disso!"
"Nós adoramos que nos façam aquilo!"
"Vai por mim, eu sou mulher, eu sei aquilo de que uma mulher gosta."
"Essa atitude é erradíssima! Só a estás a afastar!"
Não alimentei a discussão porque quando vejo bola, estou como o Futre, conncentradíssimo, e também é verdade que só quando cheguei a casa é que que comecei a processar o que me tinha dito. Liguei-lhe e disse-lhe mais ou menos isto. "Olha, em relação aquilo que conversávamos... Treeeeeeeeetas. Não gostam de ser estereotipadas, e depois estereotipam. E agora, pergunto eu. O que é que vocês, mulheres, percebem de mulheres? Nada!!! Com quantas mulheres é que já namoraram ou tentaram namorar? A maior parte responderá "nenhuma". Logo, não fazem ideia da complicação que vai nessas cabeças no contexto de uma relação amorosa. Nem na vossa cabeça têm bem a noção do que se passa, quanto mais na cabeça da outra pessoa, no caso de ser outra mulher. É como jogar na lotaria. Tudo pode estar bem, sem que haja condições para tal, como o cenário mais paradisíaco se pode tornar num pesadelo."


Nós só precisamos que nos ensinem, desde pequenitos, a reconhecer a complexa estrutura que é o labirinto das vossas mensagens não verbais. Tudo o resto, é pura especulação. Deixem-nos trabalhar. É que se nós não percebemos nada de mulheres, vocês percebem ainda menos.

Vá, fiquem lá ofendidinhas.






sábado, 21 de abril de 2012

De vez em quando...

... não faz mal nenhum cedermos a passagem a outro condutor. Tinha acabado de chegar à cidade; ela esperava, pouco pacientemente, com o pisca ligado. Como sabia que era difícil virar para aquele lado, vindo daquela rua, parei e fiz-lhe sinal. Acelerou, levou a mão à boca e mandou-me um beijo. Já há demasiado tempo que não via aquele gesto.

Ou me confundiu com alguém ou gosta de Q's.




quinta-feira, 19 de abril de 2012

Que foi diferente hoje Q?

Almoço na Associação Caboverdeana... cachupa e funaná.



Amo-te, mas não te amo assim.


Nem sempre tenho destes ataques lamechas. Também não me castigo ou envergonho por isso. Se invariavelmente choro com o Reconstrução Total e me impressiono com o Encantador de Cães...
Vinha para o escritório com isto na cabeça. O que move o mundo é o amor. O que o move, mas também o que o faz parar. Enquanto essa paragem se dá porque duas pessoas teimam em não se desabraçar, não vem mal ao mundo. Por outro lado, se a paragem se der na vida de uma pessoa, por não ser correspondida, perde-se ali uma centelha de humanidade. Um ser poderia estar a alcançar nobres feitos, mas não o faz, pelo facto de sofrer por amor. Parou de respirar.

Neste aspecto, as mulheres são as que mais alimentam as paragens da humanidade. Gostam de ser adoradas, mas preferem não adorar, a menos que se sintam por alguém paradas. Não adianta dizerem que querem apenas ser amigas, que precisam de nós dessa forma e que, mesmo assim, não nos querem perder. Assim continuam-nos a dar toda a esperança do mundo. E nós, homens, quando nos entregamos, não somos homens, somos meninos. Somos doces como meninos, protegemos como meninos, erramos como meninos, e haverá sempre coisas que não conseguiremos compreender. Acima de tudo, como meninos, amamos. Não dá para separar a doçura de amar da consequente esperança em se ser correspondido.

Um amigo pode tentar distrair a nossa atenção, pode dirigir-nos todas as suas palavras de encorajamento, pode apagar o número dela dos nossos telemóveis, o seu contacto da nossa lista de amigos do messenger, mas o poder continua todo centrado na mesma pessoa. A mesma pessoa que, ao se lembrar do nosso número e pedir um pouco de atenção, nos continua a dar esperança. Basta um telefonema, um encontro e um sorriso, para tudo voltar ao ponto de partida. E isso não é honesto.

Por isso, mulheres, seres nobres que incondicionalmente adoramos, bebam um copo de leite bem quente (supera o gás da coca cola) e bebam-no de rompante à nossa frente. Soltem um valente arroto. Arrotem como nunca arrotaram na vida. Riam-se que nem umas labregas a seguir. Arrotem, digam muitas asneiras com sotaque transmontano e parem de nos ligar. Só nessa altura, a ausência do vosso número nas nossas cabeças fará sentido. Marca mais num homem a força da imagem de um arroto vosso de que de um sorriso. E um sorriso nunca poderá cheirar a puré de batata com salsichas.

Se todas as mulheres que passaram pela minha vida tivessem arrotado*, eu teria sofrido menos.

*Por acaso uma até chegou a arrotar. Nessa altura deixei de ter qualquer tipo de dúvidas.









 



quarta-feira, 18 de abril de 2012

Porque devemos ser comedidos e possuir apenas aquilo que precisamos...

Começo por dar o exemplo e contentar-me com este T1.

"O" T1.

Life is short. Life is dull. Life is full of pain. And this is a chance for something special.

"Juan Antonio: American?
Cristina: I’m Cristina and this is my friend, Vicky.
Juan Antonio: What color are your eyes?
Cristina: Uh…they’re blue.
Juan Antonio: I would like to invite you both to come with me to Oviedo.
Vicky: To come where?
Juan Antonio: To Oviedo. For the weekend. We leave in one hour.
Cristina: What, where is Oviedo?
Juan Antonio: A very short flight.
Vicky: By plane?
Juan Antonio: Mm-hm.
Cristina: What’s in Oviedo?
Juan Antonio: I go to see a sculpture that is very inspiring to me. A very beautiful sculpture. You’ll love it.
Cristina: Oh.
Vicky: Oh, right, you’re asking us to fly to Oviedo and back?
Juan Antonio: We’ll spend the weekend. I mean, I’ll show you around the city and…we’ll eat well, we’ll drink good wine, we’ll make love.
Vicky: Yeah…who exactly is going to, make love?
Juan Antonio: Hopefully, the three of us.
Vicky: Oh, my God.
Juan Antonio: I’ll get your bill.
Vicky: Jesus, this guy, he doesn’t beat around the bush. Look, senor, maybe in a different life.
Juan Antonio: Why not? Life is short. Life is dull. Life is full of pain. And this is a chance for something special.
Vicky: Right, well, who-who exactly are you?
Juan Antonio: I am Juan Antonio. And you are… (to Vicky) …Vicky… (to Cristina) …and you are Cristina. Right? Or is it the other way around?
Cristina: Yeah, that’s right.
Vicky: Yeah, I mean, you know, it could be the other way around because, frankly, it doesn’t matter because either of us will do to keep the bed warm. You know, I get it.
Juan Antonio: Well, you are both so lovely and beautiful.
Vicky: Yeah, thank you, but we do not fly off to make love with whoever invites us to charming little Spanish towns.
Juan Antonio: (to Cristina) Does she always analyze every inspiration until each grain of charm is…uh…como se dice, eh, squeezed out of it.
Cristina: I guess I have to say that, my eyes are green, actually."


Demorei... mas cheguei lá.

Qual é a piada de passar por esta vida sem nunca ter feito nada pelos outros? (Powered by Pulha Garcia)

Associação Primeiro Passo  tem por objectivo concretizar projectos em Moçambique que permitam às populações locais trabalhar e iniciar negócios auto-sustentáveis.

Para o dia 21 de Abril vão organizar umas aulas de surf solidário e para bónus podem mandar objectos contundentes ao gajo com água até ao pescoço e braçadeiras do Benfica ;)




terça-feira, 17 de abril de 2012

Billie Holiday

Segundo um sacana, música considerada pela revista Time como uma das 100 músicas do Séc XX. E eu concordo. Se se conseguirem abstrair da imensidão da voz, da soul, do carisma e da magia da Billie Holiday... atentem da letra.



Billie Holliday - Strange Fruit

Passar a mensagem.

Decidi que aqui neste canto não irei dar muitas dicas para me identificarem, por isso também não direi muito sobre o que faço para pagar as contas. Não por nenhum motivo especial mas porque dá-me um gozo enorme andar despercebido nalgumas áreas da minha vida. E isto permite-o. Isto também para vos dizer que por vezes sou chantag...convidado, vá, para falar um pouco sobre o meu trabalho (bem como outros colegas meus de outras áreas) a alunos de 14/15 anos que estão naquele momento decisivo das suas vidas.
Claro que eles aprendiam muito mais se eu lhes contasse meia dúzia de histórias da minha juventude, se falássemos de gajas e copos o conhecimento seria muito mais benéfico, porque no fundo, ficam a saber o mesmo, mas adiante.
Ontem foi um desses dias. Após uns breves minutos de conversa chata faço a pergunta que espero sem resposta: "Alguém tem alguma pergunta?"
10 segundos de silêncio e levanta-se um braço. Pensei, lá vem uma pergunta técnica, ou perguntarem como faço para manter o meu ar ocupado enquanto estou no messenger.
-Diz
-Quanto ganhas?
Faz sentido...no fundo...que mais interessa além disso?


segunda-feira, 16 de abril de 2012

As simple as that.

Violinos no largo.

Estava eu a planear um sábado desportivo com jantar "futebolês" e eis que a minha amiga X, violinista e utópica de religião, perguntou-me se eu queria jantar, que estava ali perto, que as saudades não podem ser alimentadas e que seria uma coisa boa com um grupo dos seus amigos de trabalho (músicos, actores e poetas). Eu disse sim, que as saudades devem ser assassinadas de baioneta, numa boa mesa de jantar, que também estava ali perto e que um grupo fechado na ciclicidade das artes aspirará sempre ao jantar perfeito. O São Carlos servia de palco, a boa comida de cenário, o vinho tinto de inspiração e as palavras pareciam alinhar-se, ajeitar-se, talvez mesmo, aninhar-se aos lábios de quem dizia. Depois não me lembro bem como foi. Acho que falavam de instrumentos, das pessoas a serem instrumentos qual seriam. E eu disse: "que cada ser tem um som, cada pessoa tem um som e uma zona de si vazia. Que tal como no universo, em nós não há ruído, há som. Que é nessa zona de si vazia que as palavras do outro ressoam e fazem sentido. Que é ali, naquela zona, que o eco se faz e as palavras se diluem dentro de nós, até que façam parte de nós. Expliquei que em mim, as palavras caem dentro do meu peito, caem dentro de mim, devagarinho, como se tocassem num xilofone. Um grande xilofone balinês... E que se me deixar tocar por elas, ouvirei o ressoar do coração, escutando os sons do afecto. Em pequenas notas de xilofone. Em pequenas gotas da pessoa que está à minha frente." Em seguida houve um silêncio. Um desconforto. Uns rostos que me olharam "who brought the fucking alien?" Até alguém falar de algo que fez nascer novamente o ruído, a conversa, o burburinho. A X sorriu-me como quem contempla algo de arte totalmente out, que se admira profundamente com carinho, mas não se entende por mais que se estique a ternura. Como se eu fosse um Kandinsky, cheio de promenores tão inacessíveis e tão belos no conjunto. Eu sorri-lhe de volta, como se fosse o cérebro do próprio Kandinsky - esquizofrénico, cheio de perguntas, cheio de certezas, parte do Cavaleiro Azul, rodeado de artistas e eternamente sozinho. Gosto desta minha fase.

sábado, 14 de abril de 2012

Este fim de semana vou por aqui.




... entre uma jogatana daqui a pouco com a malta, deguida dum jantar a ver o Gil tirar a última hipótese do Benfas ganhar alguma coisa este ano e depois talvez uma saltada à catedral. A ver se cumpro. hasta

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Que foi diferente hoje Q?

Lá ganhei coragem e arrisquei... na cor . Não ficou mal.

Gilles Villeneuve

Nunca fui grande adepto de corridas. Não me entusiasmava, ponto. Admito que os aficionados gostem do ruído dos  motores, das técnicas de ultrapassagem, dos pneus a serem mudados em 4,5 segundos, etc. O que me atraiu sempre nesses desportos motorizados foram os pilotos fora da caixa, i.e. aqueles que rebentavam com as tradições e faziam o inesperado por pura coragem (ou inconsciência) e arrepiavam toda a assistência. Gostava de ver o Henri Toivonen nos ralis que nunca me lembro de fazer uma reta a direito, indo sempre de lado a preparar a próxima curva. Infelizmente o seu estilo exuberante de condução colheu-o cedo de mais. No Tour de Corse Henri estava doente com gripe mas insistiu em guiar, depois de não pontuar nos dois últimos ralis. Ele estava exausto e tomava um medicamento para a dor de garganta, era dificil manter o S4 em estrada, era demasiada potência para um rali como o Tour de Course. Mesmo assim ele já liderava a prova com alguma vantagem mas no 18º troço não evitou uma saída de estrada numa curva sem protecção. O Lancia caiu numa ravina e embateu numa árvore que causou uma explosão da qual Henri e Sergio, o seu navegador, não conseguiram escapar. Quando era miúdo e só havia um canal (ficam já com uma ideia da minha idade, por volta de 1981) para lá das futeboladas no largo, o pessoal começou a gostar de Fórmula 1, cada um de nós elegeu os seus ídolos com que nos identificávamos nas corridas de caricas em cima do muro.
Uns eram pelo Piquet, havia quem fosse pelo Prost, outros pelo Pironi ou pelo John Watson etc...
Por exclusão de partes e também por ser dos mais novos, fiquei com o Villeneuve.
A verdade é que o Piquet coleccionava campeonatos e o Prost vitórias mas o Villeneuve é que fazia as manobras mais arriscadas e espectaculares. e eu neste feitiozinho de contracorrente não me importava nada de não ver o Gilles ganhar provas. Identificava-me com a atitude.
Apesar de não darem parte fraca,
com o passar do tempo o respeito e a admiração que os mais velhos tínham pelo Villeneuve ía aumentando.
Recordo uma partida, salvo erro no GP da Holanda em Zandvoort, em que o Gilles passou por cima (literalmente) do Williams do Alan Jones. Que espetaculo!!
Era um piloto desaustinado e com pinta de galã de cinema francês.



Em 1982 no Grande Prémio de San Marino em Imola, quando seguia em primeiro a 3 voltas do fim, Villeneuve foi traído pelo seu companheiro de equipa Dider Pironi. Desobedecendo a uma ordem das boxes, o segundo piloto da Ferrari, ultrapassou-o, pondo em risco a classificação de Villeneuve no Campeonato do Mundo de Condutores. O canadiano ainda passou Pironi, mas este voltou a ultrapassá-lo, acabando a corrida a fazer tampão às investidas de Villeneuve. Todos achámos que tinha sido demais. Na inocência dos adolescência, todos chamámos de tudo e alguma coisa ao B, acérrimo apoiante do Pironi.
Infelizmente no GP seguinte, em Zolder na Bélgica, Villeneuve morre durante os treinos.



Lembro-me duma frase do Enzo Ferrari (que o considerava como seu filho): "Gilles, ti ricorderemo sempre". Eu e muitos também.
Ontem recebi o vídeo (que está lá embaixo porque ainda não sei como se mete aqui como hiperligação... mas hei-de aprender!!)
que ilustra bem a loucura e a rapidez deste piloto.
Estamos em 1979 no Grande Prémio de França em Dijon. Foi a mais fantástica luta por um segundo lugar da história da Fórmula 1. O Duelo é entre Gilles Villeneuve (Ferrari) e René Arnaux (Renault). Apesar de não ter o carro mais veloz, Villeneuve acreditou sempre que conseguiria bater o seu oponente.
É favor fazer o download, tirar o som e apreciar.
É por estas e por outras que deixei de gostar de Fórmula 1. já não há disto...

Respeitinho, sim?

http://www.iprimus.ca/~trauttf/Gilles/Dijon79.mpeg

terça-feira, 10 de abril de 2012

Need to say more?

"Nação valente e imortal"

Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida. Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento. Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos. Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos.
Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estóico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade. O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade as vezes é hereditário, dúzias deles. Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão. O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal. Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito. Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver
- Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro
- Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima
- Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade.
As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos sem dificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente. Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos.
Vale e Azevedo para os Jerónimos, já!
Loureiro para o Panteão já!
Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já!
Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia. Para a Batalha.
Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram.
Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito. Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis. Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair. Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano. Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos. Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar. Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho. Agradeçam a Linha Branca. Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar. Abaixo o Bem-Estar.
Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval.
Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros. Proíbam-se os lamentos injustos. Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender, o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa. Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto.
Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar? O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos uns aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes.

in Revista Visão
05.04.2012

Spotters... what else?

Não compreendo o gozo que dá ver aviões a descolar e a aterrar. Ainda se chocassem uns contra os outros, tipo bolas de bilhar. Mas não. Monstros carneiros. Põem-se na fila à espera da sua vez para descolar. Ordeiramente. Nem sequer dão um bocadinho de gás, tipo os motards. Põem-se na fila para estacionar. Ordeiramente. Nem buzinam nem nada, tipo os condutores impacientes. Toneladas de chapa reluzente bem-comportadinhas. Pasmaceira. Não compreendo os planespotters. Qual o gozo? Os lovespotters são um bocadinho assim. De binóculos, a espiar a paixão alheia. Nunca se atrevem a embarcar. Limitam-se a ver os outros a apaixonarem-se, a amarem, a desiludirem-se, a degladiarem-se, a apaixonarem-se outra vez, a desiludirem-se outra vez, a degladiarem-se outra vez, a apaixonarem-se outra vez ... Os lovespotters limitam-se a invejar o amor de dois apaixonados, sem nunca se atreverem a embarcar numa viagem semelhante, com receio de apanharem uns poços de ar durante a viagem, enquanto estão lá em cima, no ar, sem rede. Ou então, se calhar, têm receio de aterrar. Voltar à terra. Cair na real. Sim, ir às nuvens é muito bom. Mas aterrar de vez em quando também é preciso, quando muito é prenúncio de nova viagem. Com a mesma companhia, ou então com outra. O que interessa é não ter medo de voar.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Marilyn Monroe

Marilyn, a única mulher que parecia «cinco quilos mais magra ao ser fotografada.»
- Inge Morath (fotógrafa da agência Magnum)


Carinhas lavadas...

Ontem li no Diário de Notícias, em páginas consecutivas, artigos sobre Cristina Branco, a pretexto dos espectáculos e do seu disco, e Soraia Chaves (com quem já tive alguns cruzares de olhos no ginásio... mas às 7 da manhã, todos os cruzares de olhos são questionáveis), há já algum tempo afastada dos ecrans desde que foi protagonista do filme de António-Pedro Vasconcelos. As imagens que encontrei para usar aqui não são ideais, mas também não existem imagens perfeitas para traduzir a beleza natural destas duas mulheres. Na minha opinião duas belas mulheres públicas do nosso país, como há poucas. De uma sensualidade dócil embora sobejamente curvilínea, na acepção mais lusitana das expressões. Feliz daquele que as observa quando se deitam ou se levantam, pois deles é esse reino oculto onde os atributos de Soraia e Cristina dispensarão cuidados que frequentemente as colocam a um passo do piroso. Mulheres como estas devem ser contempladas tal como vieram ao mundo. Da cabeça aos pés lavadas.


 

domingo, 8 de abril de 2012

Ainda na Páscoa.

Nunca gostei da Páscoa. Sempre me fez confusão comemorar a morte de alguém. Sobretudo de alguém que deu a vida por nós. Sempre achei uma enorme responsabilidade para mim. Como se por isso, tivesse obrigação de ser ainda melhor. Porque senão, qual o interesse do sacrifício? Mas não deixa de haver nisso algum orgulho mesquinho nessa minha forma de ver a Páscoa e tudo o que ela representa. Porque na verdade, aceitar o que de bom os outros nos fazem, sem nos sentirmos com isso desmerecedores de tal acto, é também um exercício de humildade. Aceitar a nossa condição humana de imperfeição e incompletos, far-no-á aproximar mais do próximo e aceitar em pleno a sua amizade. É este o meu desejo para esta Primavera que agora renasce.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Nada é estranho.

Nada do que é humano é estranho ao septuagenário Merle Haggard. Chegou a ir preso (algumas vezes) antes de iniciar uma carreira fulgurante que hoje se mantém num nível muito digno de respeitabilidade: Tom Waits encabeça a sua lista de fãs. Olha-se-lhe para o rosto e é como se a sua história estivesse à vista de todos, naquela cara de Bukowski hoje talvez apaziguado. Haggard tem lugar entre os maiores, e porventura apenas o facto de se ter mantido firme no género country explique que não seja tão celebrado quanto, por exemplo, Johnny Cash. O tempo daqueles cuja obra é produto da vida (ao contrário dos produtos de agora, de criação expontânea e vida breve) está-se a acabar.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Each drug that numbs alerts another nerve to pain.

Ainda não vos contei mas tenho uma amiga que fuma erva ocasionalmente. De origem caseira, guarda-a na estante dos livros. A mais leve no Luís Fernando Veríssimo, a que arranca gargalhadas à séria no Seinfeld, aquela que é mesmo boa no António Lobo Antunes e a preferida no Salman Rushdie.

A novidade é que à secção mesmo boa junta-se agora Oscar Wilde e Norman Mailer.

Enquanto ela fala de compatibilidades, as visitas costumam rir imenso. Para mim o sistema é perfeito.

E quando alguém lhe diz que tem os olhos um bocado vermelhos, ela responde sempre "estive a ler". (Título de Robert Lowell... o gajo da foto))



Verdade e senso comum...

terça-feira, 3 de abril de 2012

Também não é o pior.

Uma certa vez, naqueles momentos pós sexo em que supostamente apenas se dizem verdades, uma amiga que se tornou íntíma disse-me que não ia ter nenhuma relação com nenhum homem porque sofria duma coisa a que chamou “incompatibilidade estrutural” com os homens. Isto é, gostava de homens mas não havia estrutura emocional e/ou cognitiva que conseguisse construir com nenhum, por isso tinha optado por se manter assim, com encontros causais mais ou menos regulares. Depois disse-me que achava que eu era mais ou menos como ela.
 Na altura não dei importância nenhuma ao que ouvi. Pensei que era uma forma dela me dizer que a única coisa que queria de mim era sexo e, uma vez por outra, uma ida ao cinema para sentirmos que também éramos amigos. E durante algum tempo foi assim.
 Agora, cada vez mais me convenço que ela tinha razão. Sofro da mesma incompatibilidade estrutural e o meu maior problema é não aceitar isso com facilidade. Na minha faixa etária, definitivamente, uma das coisas mais fáceis de conseguir é sexo, às vezes bom outras vezes mau. No entanto, uma das coisas mais difíceis de conseguir é ser estruturalmente compatível com alguém.
 Essa estrutura, às vezes, chega a atingir uma tamanho considerável mas nunca se sustenta em bases sólidas. Estou a pensar que o melhor é resignar-me à minha vidinha de quecas soltas, jantares isolados, uma ou outra ida ao futebol e, o fundamental, muito convívio com amigos à séria. Não é o melhor mas também não é o pior.


segunda-feira, 2 de abril de 2012

A chata...

Conheci-a uma vez num evento de trabalho e, por mero acaso, ficámos sentados na mesma mesa e conversámos. Fui simpático, como sempre sou para grande parte das pessoas. Mas nada mais, nem ela alguma vez me interessaria a esse ponto. E ela talvez tenha entendido mal a minha simpatia. Surgiu o convite para o café e eu digo-lhe que vou ter com a minha namorada, só naquela de despachar o assunto. Mas ela não entende e insiste. E eu volto a recusar. Depois desse dia, foram chamadas quase todos os dias durante quase um mês (sim, porque eu lhe dei o meu cartão antes de me aperceber da asneira que isso seria). Só para falar, dizia ela. Queria ser minha amiga. Mas eu não preciso de mais amigo(a)s, eu nem te conheço, dizia eu (já assim meio freaked out e a imaginar-me num cenário C S I ). Mas queria ser minha amiga à força, como se isso fosse possível. Passei-me e disse-lhe para parar com aquilo. Parou.
Mês sim, mês não, o telefone toca e é ela (não apaguei o número, para saber sempre). Nunca atendo. Às vezes ponho-me a pensar, tótó bonzinho que sou, "coitada, se calhar precisa de ajuda com alguma coisa". Mas depois lembro-me da chata que ela era e ponho o telefone em silêncio.